CALENDÁRIO DUM EMBRIÃO
Não é só na Bíblia que nós encontramos figuras de animais, bestas e outros seres a falar. Na era moderna, os realizadores de Cinemas e os escritores põem não só os animais, mas até as plantas a falar!
- Mas é uma ficção, dirão uns.
- Outros opinarão que eles também têm a sua linguagem.
Os cientistas não têm dúvidas de que um embrião humano tem em potência, com todas as faculdades humanas.
Por isso, algures nos anos 70, pus-me a imaginar o dia-a-dia dum ser humano embrionário - CALENDÁRIO DUM EMBRIÃO -, a partir do momento que foi concebido: uns dias, umas semanas ou uns meses, pouco importam... situações felizes, outras dolorosas e não poucas dramáticas...!
Ei-lo:
1 Essa agora, mas onde é que eu estou metido, neste mar nebuloso e viscoso. Mas é tão «fofinho»! Olha que oiço barulho, vozes, umas vezes grossas, outras mais finas e delicadas, mas também umas vozes estranhas, «hão, hão» e nem pára de gritar!. Estou no ventre da minha mãe!
2 Ela nem sonha que estou cá dentro, que eu existo! Quero lá saber se sou fruto dum acontecimento casual. Acredito que a minha mãe e o meu pai me querem muito.
3 Há quem diga que eu não sou nada e que só a minha mãe existe. Estarão enganados ou fazem-se de enganados, Até deram-me um nome feio, FETO! Olha, seu espertalhão ou espertalhona, eu sou uma pessoa real, assim como uma migalha de pão é um nadinha do pão. A minha mãe existe e eu também existo! É verdade, ela nem sonha que existo dentro dela e que ela me alimenta e me faz crescer.
4 Que estranho, hoje tenho a sensação de que a minha boca está a começar a mexer-se, a abrir-se...Que giro, este líquido todo quase que me sufoca, mas vou ver se consigo ir além, mais adiante.
5 Ai, como será quando eu sair daqui? Quanto tempo mais restará?
6 Hei-de sorrir, dar gargalhadas, chorar, como eu oiço a minha mãe a falar, a gritar, a chorar... Como será ela? Magra, forte, branca, morena, negra... pouca importa, gosto dela assim como ela for.
7 Conseguirei falar como a minha mãe fala? Quando poderei dizer; ma, ma, mã, mamã ou pa, pa, pa, pa-pá!
8 Olha, olha, sinto dentro de mim mesmo bater qualquer coisa: pâp, pâp, pâp...É o meu coração! Ele bate, bate e não para, mesmo quando estou a dormir. É que vai bater para o resto da minha vida. Quantos anos viverei eu? Muitos, muitos! Só depois de muitos e muitos anos, quando o meu coração ficar cansado de bater ele há-de parar e hei-de morrer. Gostava de viver para sempre, mas...
9 Cada dia vou crescendo um bocadinho: os meus bracitos, as minhas perninhas e os pezitos já se mexem e até uns dedinhos tão pequeninos que até se mexem. Olha, consigo mover-me nesta piscina. É tão divertido! Mas faltam ainda tanto tempo, para eu estar no colo da minha mãe e nos braços de meu pai. Ele terá jeito para esta coisa tão pequenina? Quando poderei brincar com a minha mãe, pôr as minhas mãozinhas na sua boca, no seu nariz? Ela talvez me diga: oh não, não, isso não! Ai, ai, ai, que me estás a magoar. Lá chegará esse dia. Hei-de brincar com o meu papá, hei-de apanhar flores para minha mãe. Como será lá fora?
10 Hoje, a minha mãe parece agitada, nervosa; anda tão depressa, para onde irá ela? Oiço vozes de mais mulheres e parece-me que alguém está a apertar a barriga da minha Mãe. Será que ela já sabe que eu estou cá dentro? Se calhar ela pensa que sou um rapaz e se calhar até já me escolheu um nome, Vasco. Essa agora, Mamã, eu sou uma menina. Vou ser como tu, minha mãe, linda! O meu Papá vai ficar muito contente quando souber que estou cá dentro. Como será ele?
11 A Mamã anda calada, vagarosa anda, anda...para onde irá ela, não oiço voz nenhuma, uns soluços da minha Mamã...
12 Não sei o que se passa está noite ouvi gritos da Mãe, a chorar, a mexer-se! E também do meu Pai, mas que gritaria é essa. Eles estão loucos. O que é que se passa lá fora?
13 O que é isso, a minha mãe está sentada, mas, corre, corre, tão depressa e até às fezes faz pã. pã, pã...Eh! alguém está a empurrar-me, mas isto dói, está a furar o meu corpinho, olha que eu não aguento...Mãe ajuda-me que eles querem me matar, já estou cortada... ai, ai, ai...que eu morro! Tiraram-me a vida, mataram-me...
Carcavelos – Cruz Quebrada – S. Francisco Xavier, entre 1973 a 1974 e 1984 a 1986, revisto no ano 2006. (Pe António de Oliveira Colimão)
Monday, January 15, 2007
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